terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Saudade!

"Saudades! Sim...talvez...e por que não?
Se o sonho foi alto e forte
Que pensara vê-lo até a morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?...Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!"

(Saudade. Florbela Espanca)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A profa. Fátima!


Desejos


Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica do Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na tv
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música do Tom
Com letra de Chico
Frango caipira em
Pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ver a banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir
A palavra não
Nem nunca
Nem jamais e adeus
Rir como criança
Ouvir canção de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever
Um poema de amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho
De cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.
(Carlos Drummond de Andrade)

Filme: "Janela da alma"


"O ato de ver e olhar não se limita a olhar para fora, não se limita a olhar o visível, mas também o invisível. De certa forma é o que chamamos de imaginação”
“O que vemos é constantemente modificado por nosso conhecimento, nossos anseios, nossos desejos, nossas emoções, pela cultura…”


Oliver Sacks, neurologista e escritor

Filme Invasões Bárbaras.

O que é nítido no filme é a ciclicidade da humanidade, a forma como evoluimos até os tempos modernos e de tão modernos voltamos a hábitos primitivos. O quanto é voraz a nossa necessidade de consumo, como quando lutávamos entre clãs por terrritórios, o quanto somos guiados pelo dinheiro, como éramos pelos nossos instintos.
E ainda assim jamais conseguimos descobrir o misterioso sentido da vida e continuamos a sempre sentir medo da morte.

Dedicado ao protagonista.

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida estátodo de trás pra frente. Nós deveríamos morrerprimeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo,até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poderaproveitar sua aposentadoria.Aí você curte tudo, bebebastante álcool, faz festas e se prepara prafaculdade.Você vai pro colégio, tem várias namoradas, viracriança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna umbebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seusúltimos nove meses de vida flutuando....E termina tudocom um ótimo orgasmo!!! Não seria perfeito?"

(Charles Chaplin)

Experiência de atendimento.


De cada momento com um paciente tento sempre conservar o que foi conquistado de nós dois, o nome, o olhar, o jeito, o sotaque, o carinho, a história, quem sabe até segredos compartilhados, entre dois pouco conhecidos que talvez nem se vissem mais.

É assim que tento enganar as frustrações, pois se o médico (falso professor), o enfermeiro, ou mesmo os outros não sabem ensinar, não se interssam em cuidar, não querem acolher, eu guardo do paciente um tesouro que construimos.

Sem mais delongas, inicio a narrativa de um caso que foi de todo surpreendente. Como estagiária, de praxe, fui chamada para mais uma admissão. Na enfermaria, percebi algumas caras conhecidas, capazes de um "Bom dia" gentil, e na última cama avistei um senhor, de cerca de 80 anos, deitado de forma a dar as costa a mim e, apesar das inúmeras vezes que chamei por seu nome. Perguntei se poderíamos conversar, e chorosamente ele disse "Não". Então perguntei porque estava chorando, e ele mais uma vez grosseiro respondeu "Não lhe interessa." Já um pouco incomodada com tamanha ripidez, mas sem a coragem para respondê-lo à altura, fiz-lhe uma última pergunta a fim encontrar chance de fazer sua admissão, não estaria com um acompanhante? "Eu agora estou sempre sozinho." De certa forma constrangida, frustrada, vencida, sai da enfermaria.

Mas se dos pacientes, mesmo quse sempre sem instrução, não poderia encontrar ao menos simpatia, pouco esperava que o médico pudesse ser menos indiferente, "Se ele não quer ajuda, também não preciso ajudá-lo, quando ele sentir dor, vai falar." Já não tão surpresa, porém não menos indignada, levei o prontuário em branco de volta ao posto de enfermagem e ouvi dizer que aquele era um "freguês da Casa", tinha problema não a história estar em branco.

O resto do plantão foi bastante clamo, mas a frustração confesso perseguiu-me até resolver voltar a enfermaria. O paciente continuava na mesma posição, puxei uma cadeira e sentei-me ao lado do seu leito. Com o tempo, o homem levantou algumas vezes , mas não me deu atenção. Estava travada uma questão de honra, infantil é verdade...

Até que dei-me por vencida, mas só porque já era o fim do plantão e teria aula. Porém ao perceber que ia embora, ohomem não falou nada, mas segurou minha mão e chorou. Fiz-lhe um carinho e voltei a sentar, e ele voltou a se deitar e dar as costas para mim.

No dia seguinte, voltei a procurá-lo. Puxei novamente uma cadeira e desta vez sim ouvi toda a sua história triste. História de um velho-homem-menino que havia tido como único amigo um cavalo, Faísca, o qual só ele sabia como domar (como ele sentia orgulho de contar), foi vendido pelo pai quatro vezes, mal-tratado em todas as casas, só encontrando sossego na cocheira com faísca, que também era vendido com ele. Um dia, quando o dono da fazenda acreditava ter domado o cavalo, este o agrediu e por isso foi sacrificado e seu Gabriel (era este o nome dele) foi expulso da fazenda. A primeira e grande perda de sua vida, mas não a última, pois quando jovem se apaixonou perdidamente por uma mulher, com quem teve um filho, mas após um acidente e contrair tétano, por achar que estava com doença contagiosa, vendo-o no isolamento do hospital, roubou dele o filho e deixou dito com a enfermeira que ele levasse sua doença para longe e fosse morrer sozinho.

Seu Gabriel contou-me que havia perdido a fé e se isolou de todos.

Não chorei na hora, mas chorei depois, quanta tristeza...

E apesar de tudo, sai com uma certa alegria me sentindo portadora de um tesouro.



Dedicado a seu Gabriel.

K. Lívia

Homenagem a Florbela...

" O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreeendo, pois estou longe de ser uma pessimista, sou antes de tudo uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que sente saudade...sei lá de quê." (Florbela Espanca)
Resposta:
" - O que você sabe de Medicina?
- Aprendi-responde Tistu, que a Medicina não pode quase nada contra um coração triste.
- Aprendi que pra gente sara é preciso ter vontade de viver.
- Dr. será que não existem pílulas de esperança?
O Dr. Milmales ficou espantado com tanta sabedoria num garoto tão pequeno.
- Você aprendeu sozinho a primeira coisa que um médico deve saber.
- E qual a segunda coisa Dr. ?
- É que para cuidar do outro, é preciso amá-lo bastante! "
( O menino do dedo verde, Maurice Druon )

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Quem sou eu?


Quando nasci, resolveram me chamar estranhamente Krasnalhia e é assim, como a origem de meu nome, que vou me conhecendo lentamente, buscando sempre a beleza de cada descoberta e me surpreendendo com os atos apresentados no cenários de minha vida.
Primeiro descobri que Krasnalhia foi colocado por meu pai, e que isso se deu no dia mesmo em que minha mãe lhe contou sobre a gravidez dentro ainda do cinema. Aquele filme, só consegui descobrir qual era há poucos meses, "Girassóis da Rússia". E foi por acaso, já na faculdade, em um dia de aula comum em que o suspense e pausa que sempre antecederam meu nome na chamada se prolongaram mais que o de praxe e se sucederam de uma explicação inesperada, eis que foi revelado, Krasnalhia (ainda que com uma escrita diferente) é o nome de uma cidadena Rússia, de pequena população, que encanta e atrai visitantes por causa de uma curiosa praça vermelha, e bela.
Já vivi 21 anos, oscilando sempre entre uma grande ansiedade de viver todos os anos de uma vez e a serenidade de sentir cada segundo que me move. Taí...sentir...pensar...sonhar, são as coisasque mais gosto de fazer. O que me encanta são as coisas verdadeiramente simples da vida. Sou do tipo que passa mais tempo sentindo a areia sob os pés,do tipo que vira criança na praia em dia de domingo, que passa horas sem fim enxergand estrelas no céu, deitada na rede, ouvindo música dos anos 80 (influências de um primo que é mais irmão), comendo pudim de leite da mamãe, lendo livro de Clarice Lispector e, entre uma página e outra, olhando o mundo da janela do meu quarto que fica no andar de cima.
Sou do tipo que sem necessidade, em pleno domingo, acorda cedo só para broncar com o cachorro. Sou do tipo que prefere ficar calada pra não brigar com a mãe e sentir peso na consciência. Sou do tipo que pede desculpa ao invés de só fazer carinho depois da briga, também , não sou do tipo que briga muito, mas do tipo que vive mendigando um carinho. Sou do tipo que gosta do outro sem o outro saber, do tipo que tem ciúmes e não demonstra.
Sou do tipo que chora assistindo noela e "trinca"os dentes pra tomar Benzentacil. Sou do tipo que faz mil coisas ao mesmo tempo, que se empolga por qualquer bobagem...mas também sou do tipo que se tranca no quarto, pega uma folha em branco, aponta o lápis e pensa, não escreve, mas pensa, não escreve, não consigo, só desenho...depois gusrdo, mostro pra um, mostro pra outro e guardo...um dia,´eis que alguém conquista alogo em mim, volto a procurar auqle desenho, pois encontrei o seu dono. Assim o tempo passa, eu também passo...mas os sentimentos ficam, os meus com os outros e os outros comigo. Eu também sou do tipo que sempre quis ser médica, que brincava de internar o gato que já passava o dia no sofá, que examinava o cachorro que já gostava do meu carinho, que dava injeção na boneca já que ela não sentia dor, que conversava com os maigos, meninas e moleques, porque eles é que sempre conversavam comigo. Era criança e sou garota do tipo que elabora um sonho com a vontade de quando agente como chocolate devagar pensando que assim ele pode não acabar nunca. Sou do tipo que sempre descobre ser um algo mais.


K. Lívia